segunda-feira, 2 de junho de 2014

A intervenção ABA direcionada ao autismo


MARIA PSICOLOGA
A Terapia ABA tem sido apontada como a mais promissora no tratamento de indivíduos autistas (Howard, Sparkman, Cohen, Green & Stanislaw, 2005; Landa, 2007; Smith, Mozingo, Mruzek, & Zarcone, 2007; Naoi, 2009). Diferentes grupos de pesquisa relataram que cerca de 50% das crianças que participaram de tratamento ABA de forma intensiva atingiram funcionamento típico após dois a quatro anos de terapia; e as outras 50% obtiveram ganhos significativos em comunicação, contato social e tarefas de auto-cuidado (e.g. Lovaas, 1987; McEachin, Smith & Lovaas, 1993; Sallows & Grapner, 2005).
A intervenção ABA direcionada ao autismo tem o objetivo principal de ensinar comportamentos adequados que permitam ao autista uma vida independente e integrada à comunidade. Para isso, os profissionais utilizam métodos especiais de ensino focados no desenvolvimento da comunicação, habilidades sociais, habilidades de brincar, habilidades acadêmicas e habilidades de auto-cuidado (Leaf & McEachin, 1999). Também são utilizadas técnicas específicas para lidar com comportamentos-problema, como birras, necessidade de rotina e padrões repetitivos de resposta.
·         O primeiro passo do tratamento ABA é a realização de uma avaliação abrangente das habilidades já demonstradas pelo cliente, dos seus comportamentos inadequados e de sua capacidade de aprender. A ênfase da avaliação é na descrição de como elementos do ambiente estão relacionados aos comportamentos exibidos pelo cliente, o que é chamado de análise funcional.
·         O passo seguinte é a criação de um plano de trabalho em que se definem objetivos e prazos para seus cumprimentos. A partir do plano, ocorre o tratamento propriamente dito.
·         Todo o processo terapêutico é minuciosamente registrado, permitindo que seja constantemente avaliado e que o rearranjo de situações problemáticas ocorra rapidamente.
·         O desenvolvimento de novas habilidades ocorre por meio de procedimentos graduais de ensino, em que comportamentos complexos são divididos em suas partes componentes. Cada parte é ensinada individualmente e, após o estudante dominar todos os passos de ensino, o comportamento como um todo é sintetizado e generalizado.
·         Há quatro tipos mais comuns de procedimento de ensino:
·         Tentativa Discreta: constituída pelo que é chamado de unidade de ensino ou, na literatura conceitual analítico-comportamental, contingência de três termos: o terapeuta arranja os estímulos e faz um pedido (Sd), o estudante responde com ou sem ajuda (R) e é reforçado por seu sucesso (Sr). Geralmente, a tentativa discreta é realizada em contexto planejado.
MARIA PSICOLOGA
·         Ensino em Ambiente Natural: o estudante é ensinado a se comportar adequadamente em situações naturais. O ensino é planejado, assim como na tentativa discreta, mas necessariamente mais flexível e contextualizado.
·         Aprendizagem Incidental: o ensino não é planejado. Aproveita-se o interesse imediato da criança para lhe ensinar habilidades adequadas, garantindo alto nível de motivação.
·         Encadeamento de Trás para Frente: é utilizado para o ensino de habilidades de auto-cuidado, como tomar banho, trocar de roupa, escovar os dentes, etc. Consiste em quebrar comportamentos complexos em pequenos passos e ensiná-los de trás para frente, de modo que os passos iniciais sirvam de dicas para o último.
·         segue seu próprio ritmo de trabalho e jamais avança para tarefas mais complexas antes de apresentar domínio nas mais simples;
·         tem pouca probabilidade de cometer erros devido aos procedimentos de modelagem e de fading out de dicas dadas pelo terapeuta (o terapeuta inicia ajudando intensamente e retira as dicas conforme o avanço da criança);
·         é constantemente motivado;
·         e jamais é criticado por seus erros.
·         Para lidar com comportamentos inadequados, são utilizados os procedimentos de
·         Extinção: é utilizada para reduzir a frequência de comportamentos inadequados, como birras ou respostas violentas. Nesse procedimento, o reforço da resposta inapropriada é suspenso para que ela seja enfraquecida e, finalmente, desapareça;
·         Esquemas de reforçamento de respostas incompatíveis ou alternativas: são complementares à extinção. Além da suspensão do reforçador para respostas inadequadas, nos esquemas de reforçamento de respostas incompatíveis e alternativas, são programados reforçadores para comportamentos adequados que substituam as respostas indesejadas ou que as tornem impossíveis de serem emitidas.
·         Quadros de Rotina: os quadros de rotina servem ao propósito de ajudar o estudante a compreender o que fará no dia e iniciar a compreensão de encadeamento e sequenciamento das tarefas e rotina.
·         Redirecionamento: utilizado principalmente com as estereotipias. Consiste em redirecionar o comportamento repetitivo inadequado por outros semelhantes, mas considerados adequados.
·         O ensino do Comportamento Verbal tem múltiplas funções. Além de permitir ao estudante se relacionar de forma mais efetiva com seus familiares e pares, há evidências científicas de que o seu desenvolvimento está correlacionado com a diminuição da frequência de ocorrência de comportamentos inadequados.
·         A técnica de ensino de linguagem mais efetiva é o PLN (Paradigma da Linguagem Natural), focada em brincadeiras e interações sociais constantes que estimulam de forma divertida a emergência da linguagem. O PLN consiste em incentivar o uso da linguagem durante atividades lúdicas, inicialmente aceitando qualquer som emitido pela criança e, aos poucos, ajudar este som a se tornar claro e funcional.
·         Além do PLN, procedimentos mais direcionados para o ensino de nomeação, leitura e conversação são utilizados. Esses procedimentos envolvem amplo apoio de imagens e interesses das crianças para desenvolver comunicação.
·         Alguns procedimentos de comunicação alternativa são utilizados como apoio ao ensino do comportamento verbal vocal. O mais comum deles é o PECS (Picture Exchange Communication System), que ensina os clientes a se comunicarem por meio da seleção e demonstração de figuras correspondentes ao que desejam. Em versões mais avançadas, o PECS ensina tatos e formação de frases (gramática básica).
MARIA PSICOLOGA
Os procedimentos e conceitos listados acima são combinados para criar programas de aprendizagem cujo objeto é ensinar a criança diagnosticada com autismo desde comportamentos simples, como permanecer sentado e responder ao próprio nome, até comportamentos complexos, como conversação elaborada e leitura fluente. Os programas de aprendizagem são encadeados de modo que as primeiras lições são base e pré-requisitos para lições mais refinadas. Os passos de ensino são repetidos até que o estudante os tenha dominado e esteja pronto para aprender habilidades mais complexas. Esse tipo de ensino contínuo e em pequenos passos resulta em um ritmo acelerado de trabalho e em resultados geralmente rápidos.

Além do acompanhamento individual com a criança, o terapeuta ABA cria estratégias de integração que envolvem os pais, fonoaudiólogos, educadores (e escola) e instrutores dos clientes (Sundberg & Partington, 1998; Lovaas, 2002). O objetivo é que a terapia seja estendida pelo máximo de tempo possível e que todos os responsáveis pela criança trabalhem de forma coerente e integrada. Duas consequências desse tipo de integração são que (1) a criança diagnosticada com autismo aprende o dia todo e (2) tem relações sociais o dia todo, o que favorece o desenvolvimento de habilidades de comunicação e de relacionamento com o outro.

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