sábado, 30 de abril de 2011

Protocolo DAN! - Dra. Simone Pires - Tratamento do Autismo

Abordagem Biomédica do Autismo: Proposta do Protocolo DAN! - Dra. Simone Pires


Dra. Simone Pires de São Paulo fala sobre o protocolo DAN!, que é usado nos EUA com sucesso para tratar pessoas diagnosticadas com autismo.  Ela explica os princípios e como funciona.




quarta-feira, 27 de abril de 2011

AUTISMO NO TRABALHO



Quando a assistente social do grupo SBS Adriana Amaral informa a algum gerente que ele vai receber um funcionário com deficiência que não seja física, ela costuma ouvir a pergunta: “Qual é a possibilidade de ele surtar no meio da loja?” A resposta não muda: “A mesma possibilidade da assistente social surtar no meio da loja”. O grupo para o qual Adriana trabalha é formado por 150 lojas, onde hoje estão empregadas 123 pessoas com os mais variados tipos de deficiência. Uma das lojas é a Centauro do Shopping Estação, onde conhecemos Diego Mendonza de Melo, 24 anos.


Todos os dias, ele segue de Pi­­ra­­quara de ônibus até Curitiba pa­­ra trabalhar, o que faz com um constante sorriso nos lábios. En­­quanto atravessa o shopping, cum­­primenta os funcionários que encontra e é chamado pelo nome. Figura simpática, ele conta que gosta de trabalhar e, contrariando os sintomas do autismo, também adora conversar. Quem encontra Diego pode perceber que ele tem um comportamento infantilizado para seu tamanho e idade, mas dificilmente alguém acerta o seu diagnóstico.
Dentro do espectro autista, que se divide em graus mais ou menos severos, Diego estaria entre aqueles com menor comprometimento cognitivo. No entanto, a maior parte das pessoas com graus não tão severos de autismo nem ao menos conhecem o transtorno porque não foi diagnosticado. “É mais fácil fazer o diagnóstico em casos mais graves, naqueles em que a deficiência men­­tal e o comportamento bizarro estão presentes. No caso dos aspergers (os chamados de alto funcionamento, com inteligência normal ou acima da média) é bem difícil”, diz o psiquiatra Es­­tevão Vadasz, coordenador do Pro­­jeto Transtorno do Espectro Autista do Hospital de Clínicas, em São Paulo.


Para serem contratados pela Lei de Cotas, como é conhecida a lei que estabelece um número mínimo de pessoas com deficiências em grandes empresas, além de ter autismo, a pessoa precisa ter algum grau de deficiência intelectual, ou mental, assim como acontece com a Síndrome de Down.
 

Entretanto a inclusão não deve ser feita apenas pela lei, mas por uma questão social, conforme a psicóloga Julianna de Matteo, da Asso­ciação para Valorização de Pessoas com Deficiência (Avape), ONG que atua no atendimento e na defesa de direitos de pessoas com deficiência. “O preconceito que as pessoas com autismo sofrem hoje vem da falta de conhecimento da sociedade. Pouco nos interessam as cotas, trabalhamos para a conscientização das empresas para a responsabilidade social”, afirma. A Avape oferece “palestras de sensibilização” em empresas sobre o potendial das diferentes deficiências. “No caso do autismo, alguns têm uma inteligência específica impressionante e facilidade para aprender.” Para que tenham sucesso, no entanto, é preciso que as empresas se ajustem às necessidades específicas daquele funcionário, pois cada pessoa com autismo é diferente da outra, assim como são diferentes suas necessidades, limitações e qualidades. “Os empregos devem levar em consideração os traços da síndrome e as características pessoais. Muitos são extraordinários em algumas áreas, mas é preciso empenho para que possam trabalhar no que gostam”, explica Estevão Vadasz.
 

Diego trabalha como ajudante de loja, ora no caixa, ora no estoque ou ajudando vendedores. Em seu tempo livre, navega no serviço de mapas do Google e, por causa dis­­so, conhece de cor o mapa de ruas de cidades onde nunca esteve, como Londrina. Nas ruas de Curitiba, poderia andar de olhos fe­­chados, e segue sonhando com o dia em que conseguirá entrar na faculdade e trabalhar como guia turístico.

"POSSO FICAR FURIOSO SE ALGUÉM QUEBRA MINHA CONFIANÇA"

Depoimento de André Arroyo Ruiz, 30 anos, recentemente diagnosticado com autismo.
Sempre fui questionador. Em casa, virava referência sobre como operar qualquer aparelho. Na escola, era visto como a pessoa que era capaz de responder às perguntas mais difíceis. 
Hoje sou engenheiro elétrico formado pela Universidade de São Paulo (USP) e trabalho na Europa como gerente financeiro de uma grande empresa. No trabalho atual estava passando por um período difícil, em que sentia que não produzia como deveria, estava infeliz e sabia que meus chefes tampouco estavam felizes. Então procurei ajuda médica.


O diagnóstico (um grau leve dentro do espectro autista) foi sugerido há um ano, depois de alguns meses de acompanhamento psiquiátrico. A conclusão é que apresento um padrão de sintomas que se assemelha muito aos sintomas encontrados no espectro autístico. A princípio parece uma diagnóstico nada conclusivo. Depois de estudar o assunto por algum tempo, porém, entendi que ainda não há um consenso científico de o que é o autismo, então muitas áreas cinzentas surgem quando alguém apresenta os sintomas de forma mais leve. Para complicar, o grupo homogêneo mais conhecido na parte leve do espectro autístico, da síndrome de Asperger, tem características e critérios de diagnóstico muito bem definidos em crianças, porém pouco é entendido sobre como os sintomas se manifestam em adultos. O grande problema é que os critérios de diagnóstico clássicos se baseiam principalmente em deficiências de sociabilidade e comunicação. O fato de um portador não possuir uma habilidade social nata não significa que ele não possa aprender, por imitação ou tentativa e erro, como agir socialmente. E, de fato, os que têm maior capacidade cognitiva aprendem, com o passar do tempo, a imitar os comportamentos sociais esperados.

Desde não muito tempo, se sabe que o autismo não é caracterizado apenas por deficiências de comunicação e sociabilidade, mas por um quadro muito mais complexo de características, algumas das quais sempre persistirão no portador, como os diversos tipos de hipersensibilidade. 

Depois de haver conversado com muitas pessoas diagnosticadas com algum tipo de autismo, descobri que tenho muito em comum com algumas delas, muito mais do que eu jamais imaginei que teria em comum com alguém. Portanto, estou certo de que, independente de critérios de diagnóstico formais, os modelos, teorias e tratamentos do autismo se aplicam a mim.

Quando pela primeira vez me disseram que eu tinha depressão, minha mãe ficou chocada. Eu, comecei a rir... Ela não me entendia, porque ela não pensa de uma forma autista, objetiva: O fato de um médico falar que eu tenho depressão não muda ou piora meu problema, porém identificar o problema como sendo algo relativamente comum e bastante estudado pode ajudar muito a achar uma solução. Por isso comecei a rir, fiquei feliz de meu problema ter um nome, de ser algo conhecido. Depois de algum tempo descobri que na verdade eu não tinha exatamente uma depressão em si, mas um sintoma associado ao autismo que pode apresentar um quadro muito parecido com depressão.

Quando o psiquiatra falou do autismo, minha reação imediata foi a mesma, fiquei feliz. Algumas horas depois, porém, comecei a pensar em toda minha infância, e a imaginar se muitos dos problemas que tive na verdade não eram tão normais e comuns quanto eu pensava, mas eram consequências do fato de eu ser "diferente".

Não sei o quanto minha mãe já aceita a ideia, mas, a princípio, ela não acreditava no diagnóstico.
 

A primeira coisa que o psiquiatra notou foi a minha forma exageradamente precisa de falar, o que é um problema de comunicação, já que prezo mais a precisão que o entendimento. É comum as pessoas não entenderem os termos e conceitos que uso.

Havia outros sintomas, como minha capacidade de descrever, com precisão e riqueza de detalhes, tudo o que sentia, de sensações físicas a emocionais, e as hipersensibilidades diversas: tecidos duros ou ásperos podem me incomodar muito, comidas com certas texturas ou cheiros são insuportáveis, posso notar barulhos que ninguém mais ouve e a luz pode incomodar. A hipersensibilidade pode ser emocional também. Alterações mínimas no tom de voz de uma pessoa podem me fazer sentir como se a pessoa estivesse gritando ou brigando comigo. Entendo de forma literal muito do que escuto, ou pelo menos passa pela minha cabeça a interpretação literal como uma das possibilidades de entendimento. Nos casos mais graves de autismo, a pessoa pode ser incapaz de entender metáforas, por exemplo.

Descobri que pessoas com autismo tendem a apresentar níveis de estresse irregulares ao longo do dia, ao contrário da maioria das pessoas, que apresenta um ciclo diário bem definido de níveis de estresse, atenção e sonolência.
 


Tendo a pensar primeiro nas minhas vontades em situações que envolvem mais pessoas, às vezes ignorando o que pode passar pela cabeça delas ou como elas podem se sentir. Se digo a alguém que vou fazer algo, me sinto mal se os planos mudam. Ao mesmo tempo, posso ficar furioso ou muito triste se alguém quebra minha confiança (descobri que pessoas com autismo tendem a ser extremamente leais). Desde cedo mantive meus chefes informados de tudo o que descobria e, sabiamente, eles entendiam o problema e tentavam adaptar a forma de trabalhar. Para eles, assim como para mim, descobrir os problemas é a chave para poder aproveitar melhor as vantagens que minha condição proporciona. Com alguns colegas comentei sobre algumas das descobertas. É curioso que os colegas em quem também identifiquei traços de autismo, ou de algum tipo de transtorno de ansiedade, são os mais céticos: Para eles também, ser diferente é normal, e eles não querem acreditar que as minhas diferenças (e logo as diferenças deles) podem ser tão grandes que podem pertencer a algum distúrbio psiquiátrico. Nesse cepticismo, vi dois colegas que eu acreditava apresentarem depressão serem demitidos, enquanto se recusavam aceitar o problema e procurar ajuda.


Jô Soares “Eu tenho um filho autista”


Arquivo pessoal
Em 1971, depois de perder 80 quilos: silhueta fina durou pouco


Jô garante que usufruir todo esse conforto sozinho não chega a ser um problema. "Tem uma diferença entre estar em casa só e estar em casa em solidão", afirma ele. "Você também pode estar em solidão acompanhado." Ex-consorte de belas mulheres, o apresentador volta a encarnar o driblador Robinho no campo amoroso. Discretíssimo, limita-se a dizer que foi casado duas vezes no papel. Por vinte anos com a atriz Theresa Austregésilo e outros catorze com a designer gráfica Flávia Soares. "Como marido, ele é infantil, feminino, doce e delicado", derrete-se Flávia, na intimidade "Bitika". Começaram a sair quando ela tinha 20 anos e ele, 46. Romperam em 1998, mas ainda se falam diariamente. "Fisicamente Jô nunca foi o protótipo dos namorados que eu tive. Ele subverte a gordura com muita sedução, sensualidade e... é muito bom de cama." Nesse quesito, Theresa, na intimidade "Nenê", concorda. "Ele sempre foi o máximo." 


Theresa com o filho do casal, Rafael, em 1968
Theresa só conquistou essa serenidade para falar do ex algum tempo após a separação. "Eu não precisava nem preencher um cheque porque o Jô imitava minha assinatura", conta ela. "Do dia para a noite fiquei sem aquele homem genial, delicado, lindo, e só sobrou um medo enorme de viver." Desse casamento nasceu Rafael, 38 anos. Quando fala das habilidades do filho, Jô se emociona. Theresa também. Ele toca piano, faz programa de rádio em casa, fala inglês, aprendeu a ler sozinho aos 4 anos de idade. Tem o jeito de andar de bonequinho, o humor e a musicalidade do pai. Sofre do chamado autismo "de alto nível", como o personagem vivido por Dustin Hoffman em Rain Man. Rafael possui uma boa capacidade de comunicação e inteligência, mas tem dificuldades motoras e vive em uma espécie de mundo particular. "Estávamos em uma loja de livros e o Rafinha separou vinte para levar", conta Jô. "Pedi que escolhesse alguns e ele me respondeu: 'Não quero nenhum. Escolher é perder sempre'." Jô lembra-se com desvelo de outras boas sacadas do filho, como quando disse durante uma partida do Fluminense que o grito de guerra das torcidas estava desafinado. "Ele é genial." Outros filhos não aconteceram na vida do apresentador. Theresa chegou a engravidar de gêmeos depois de Rafael, mas a gestação não vingou. "O Rafinha é diferente. Mas hoje eu não queria ter um filho diferente dele."


Jô Soares


“Eu tenho um filho autista”

"Ele já é adulto. Toca piano, compõe, lê música, mas para abotoar uma camisa é uma loucura. O autismo começou a se manifestar muito cedo e de forma estranhíssima. Por exemplo, ele aprendeu a ler comigo quando tinha 4 anos e de repente ele lia de cabeça para baixo, não precisava virar o livro... É um gênio que sinceramente eu queria que não fosse, porque o autista tem total incapacidade de se relacionar com o mundo. Você tem que mergulhar no mundo deles. Há incapacidade de se comunicar com o mundo real e de produzir. Você não pode colocar para trabalhar ou fazer alguma outra coisa. Eu conheço bem o que é o problema, sobretudo na época em que eu tive o Rafa. Foi difícil identificar o autismo, uma loucura, ninguém sabia direito o que ele tinha. O Rafinha é muito parecido com o personagem que o Dustin Hoffman interpreta no filme
Rain Man."

Depoimento de Jô dado recentemente em seu programa. O apresentador autorizou a reprodução



terça-feira, 26 de abril de 2011

O Autista Daniel Tammet - aprende um idioma em uma semana



Daniel Tammet - aprende um idioma em uma semana



Inglês consegue aprender um idioma em uma semana
Jovem autista tem habilidades especiais, como a facilidade para aprender uma língua e para decorar sequência de milhares de números. E luta para mostrar ao mundo que é uma pessoa como qualquer outra
REDAÇÃO ÉPOCA

Daniel Tammet é um homem capaz de feitos extraordinários. Aos 29 anos, fala 11 línguas e se diz capaz de aprender qualquer uma delas em uma semana. Além disso, consegue decorar e recitar milhares de números em seguida, como a sequência de dígitos do pi, o termo matemático infinito. Essas capacidades incríveis são acompanhadas, no entanto, de problemas. Tammet sofre de Síndrome de Asperger, um tipo de autismo, e é um “savant”, um autista com habilidades especiais, mas com dificuldades de interagir e demonstrar emoções.

Além do inglês nativo, Tammet fala fluentemente alemão, francês, islandês e esperanto, além de conhecer os idiomas espanhol, lituano, romeno, estoniano e galês. Em um documentário feito para mostrar suas habilidades, ele aprendeu o finlandês em exatamente uma semana.

Tammet também ficou famoso por ter recitado os primeiros 22.514 dígitos do pi, e escreveu um livro – Nascido em um dia azul – em que contou os dramas de sua infância. Segundo Tammet, essas sequências de números surgem em sua mente como paisagens. Em outros casos, de números específicos, Tammet os relaciona com outros números. “Eu só entendo o número 338, por exemplo, em termos de 13. Eu consigo visualizar automaticamente que 338 é 13 ao quadrado multiplicado por dois. As pessoas fazem esse mesmo tipo de relação com palavras, mas eu consigo fazer com números também”.

Em um perfil publicado nesta segunda-feira (26) no jornal britânico The Times, Tammet tenta se afastar do estereótipo daquele que talvez seja o único savant famoso do mundo, o americano Kim Peek, que inspirou o personagem Raymond Babbitt, do filme Rain Man, com o qual Dustin Hoffman venceu o Oscar de melhor ator em 1988. “Eu não sou Rain Man”, diz. 

Depois de uma infância com episódios muito complicados, como não conseguir escovar os dentes por conta do barulho que a escova produz em contato com os dentes, Tammet passou a lutar para tentar parecer uma pessoa normal. Aprendeu a conversar olhando no olho do interlocutor e a cumprimentar as pessoas, coisas que geralmente os savants não fazem. 

Foi professor de inglês na Lituânia,  e hoje vive em Avignon, na França. E ganha a vida como escritor. “Os savants são marginalizados e tratados como uma coisa mística, mas as pessoas como eu são humanas”, diz.


Gostou da psotagem? Deixe seu comentário aqui! Bjs

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A importância do BRINCAR no Autismo












A brincadeira é a linguagem das crianças. Pela brincadeira se pode aprender a interação social, trabalhar a atenção, seqüências, habilidades, solucionar problemas, explorar sentimentos, desenvolver causa e efeito, estimular a criatividade. Com a falta de interação social, comunicação e problemas no comportamento, muitos autistas vão necessitar de ajuda para estabelecer uma relação com outras crianças e muitos não sabem brincar, o que precisa ser ensinado.

Para começar escolha algo que funcione com o autista, o que chamaria a sua atenção (dinossauros, tubarão, fadas, jogos, bola). Deixe a criança iniciar a brincadeira, fazer uma escolha. Se a criança recusar a sua presença na brincadeira comece apenas observando-a brincar, depois introduza comentários ("nossa, este carro é bem veloz!"). Não se preocupe se a criança ignorar seus comentários, continue a introduzi-los aos poucos.
02 de Abril, familia no dia Mundial  2011

Ajude a criança a engajar-se na comunicação recíproca na brincadeira. Exemplo: a criança está brincando com um carrinho. Você pode pegar outro carro e dizer: "este carro amarelo corre melhor que o azul. Vou mostrar! Cadê o azul? Ah! aqui está". (Pegue o carro marrom e deixe a criança corrigir você). Cometa outros erros e comece uma corrida de carros com isso.

Quando a criança estiver confortável em brincadeiras recíprocas, aumente a interação.
Exemplo: Ela só quer brincar de carrinho, pegue um brinquedo de animal e peça carona, depois reclame que o cachorro está com fome proteste e insista, com o tempo a criança vai parar e brincar de alimentar o cachorro. Aumente a brincadeira e encontre alguns amigos para o lanche, como o elefante, leão, e outros, alargando o horizonte e os interesses da criança. Se for muito sobrecarregado para a criança este passo, volte um pouco para traz.

Professora Bia 2011


Evite questionamentos e direcionamentos. Muita estrutura e perguntas nesta hora podem inibir tanto a iniciativa da criança como o processo dela solucionar problemas. Quando a criança estiver se sentindo confortável com a brincadeira recíproca, você poderá direcionar a brincadeira para conceitos e seqüências que deseja trabalhar. Exemplo: Ela só brinca de carrinho e sempre os coloca na mesma ordem. Introduzindo o cachorro e novos problemas, a criança começará a dar atenção a outros brinquedos.

Professora Nice 2010


Brinque e interaja. Pretenda ser um dos brinquedos e explore isso. Exemplo: Ao invés de dizer "venha e me ajude a construir um forte", seja um personagem que está pedindo ajuda. Converse com os brinquedos. Quando a criança estiver acostumada com este tipo de brincadeira tente mudar sua estrutura. Exemplo: Se ele só quer brincar com o carro azul, peça para deixar que você brinque uma vez com o carro azul.
Se a atenção da criança for mínima, não puxe a brincadeira por muito tempo. O importante é ela aprender como é gostoso brincar com outras pessoas.

Não se preocupe se está fazendo certo ou errado. Se divirta com o processo. O único erro é não brincar ou não tentar interagir com a criança.

Fonte: Autism Asperger´s Digest Magazine

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Seu filho com autismo: 7 coisas para fazer



Por Raun Kaufman K. Autism Treatment Center of America
Primeira criança do Programa Son-Rise

Nos Estados Unidos uma em cada 150 crianças tem um transtorno do espectro do autismo. The Autism Treatment Center of America ™, uma organização sem fins lucrativos, em Sheffield, Massachusetts, trabalha com famílias de todo o mundo que possuem crianças que estão no espectro do autismo. No Centro, os pais são treinados no Programa Son-Rise ®, um método exclusivo que permite as crianças melhorarem dramaticamente, construir relacionamentos significativos, superar desafios aparentemente insuperáveis, e, em alguns casos, recuperar completamente.

Raun Kaufman recuperou-se totalmente sem nenhum traço de seu autismo anterior, superou o distúrbio através do Programa Son-Rise, criado por seus pais para ajudá-lo. Abaixo, ele dá algumas dicas fundamentais para os pais que planejam sair de férias com seu filho que está no espectro do autismo.

7 dicas positivas para fazer nas festa de fim-de-ano


1) Siga (acompanhe) a sua criança!

A maioria dos nossos filhos executa vários comportamentos repetitivos. Um número cada vez maior de pesquisadores está mostrando que esses comportamentos são úteis e importantes para o sistema nervoso do seu filho. Assim, quando seu filho começa a agitar as mãos, fazer a mesma pergunta várias vezes, ou alinhar os carros de brinquedo, deixe que seu filho faça isso. Na verdade, pode ser ainda mais útil se você juntar-se ao seu filho nestes comportamentos! Agite suas próprias mãos, ou alinhe os seus próprios brinquedos!

2) Celebre sua criança!

Para a maioria de nós o nosso filho se comporta de maneira desafiadora. Nós nos preocupamos com isso, nós olhamos para ele, e nós tentamos pará-lo sempre que isso acontece.

Ironicamente, isto coloca todo o foco sobre o que você NÃO quer que seu filho faça. Por exemplo: a criança grita, chora, bate, joga objetos, etc. Não demonstre reação. Mantenha sua expressão facial e sua voz em um tom neutro (ex: não grite, não franza as sobrancelhas, não faça careta, etc.). Sempre se movimente vagarosamente e com calma durante esse momento, pois assim você minimiza as suas reações, deixando de ser um possível apoio para esses comportamentos.

Dê reações substanciais de celebração cada vez que sua criança for gentil ou pedir algo de uma maneira que você prefira.

3) Explique com antecedência.

Antes de sair de viagem ou de ir a uma festa: Explique com antecedência ao seu filho o que irão fazer (mesmo que o seu filho seja não-verbal) o que vai acontecer e como isso vai ser divertido para ele.

4) Dê dicas a sua família.

Se você estiver visitando a família com seu filho, telefone ou envie um e-mail para explicar o que eles podem fazer para tornar a visita mais agradável para você e seu filho. Explique que ruídos altos e súbitos podem ser problemáticos, ou dizer a todos a resposta que seu filho gosta de ouvir quando ele ou ela pergunta várias vezes, "Como a velocidade faz o carro ir?"

5) Preparar um quarto tranqüilo.

Se você estiver indo para casa de outra pessoa com o seu filho, prepare, com antecedência, uma sala tranqüila ou um ambiente onde a criança possa ir para descontrair uma vez que elas começam a ser super estimuladas por todas as emoções e estímulos sensoriais que compõem a maioria das celebrações. De vez em quando leve seu filho para esta sala e passe algum tempo sozinho com ele.

6) Simule um passeio sem sair de casa!

Crianças no espectro do autismo se sentirão sempre melhor quando elas não estiverem estimuladas pelos muitos locais, sons, cheiros e eventos imprevisíveis do mundo exterior. Você pode criar uma experiência em sua própria casa do que normalmente você iria fazer fora. Por exemplo, em vez de ir a um passeio à noite assistir ao festival de luzes, você pode colocar todas as luzes de Natal ao redor de sua casa, apagar as luzes do ambiente, e tocar música de Natal em volume suave. Você pode estar preocupado em privar o seu filho de uma experiência de férias divertidas, mas tenha em mente que quando a criança não consegue digerir a experiência, eles não estão tendo a experiência divertida que você deseja. Por isso, se você pode criar uma versão de fácil digestão, a experiência em casa, seu filho pode ter e desfrutar da experiência. Ao fazer isso, você está realmente dando o seu filho mais, não menos.

7) Traga o espírito felicidade  para casa.

Então, muitas vezes, ficamos presos as armadilhas das festas os presentes, os passeios que temos que fazer exatamente como planejamos. Não há problemas em arranjar coisas divertidas, mas lembre-se que estas coisas são apenas enfeites. Elas não são o presente, são apenas a embalagem.

O presente é o seu filho especial.

O presente é a partilha de esperança e doçura com as pessoas que você ama.

Em vez de festival de planejamento use  seu amor  para ver a beleza na singularidade do seu filho. Use-o  para comemorar o que seu filho pode fazer, e aproveite para usá-la para sentir compaixão e incentivar o seu filho de forma muito diferente de vivenciar o mundo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

últimas descobertas sobre o transtorno, Autismo

As 

Lucas em quatro fotos
Inquieto: desde pequeno, Lucas apresentava sinais da síndrome, como agitação e fixação por um assunto


Quem passa um tempo com Lucas Ohara, nove anos, pode ficar com a impressão de que o menino é às vezes um pouco mais agitado do que o normal ou mais desligado do que a maioria das crianças de sua idade. As duas coisas são verdadeiras. Lucas é autista. Isso significa que ele é portador de um transtorno do desenvolvimento que provoca alterações no comportamento, na interação social e no uso da imaginação. Crianças como ele, em maior ou menor grau, podem passar horas observando um ventilador girar ou gastar longos minutos batendo os dedos em uma mesa. Também são capazes de saber tudo sobre temas inusitados - o assunto favorito de Lucas, por exemplo, são os dinossauros - e, apesar disso, guardar as informações para si. Nada mais compreensível, segundo a lógica autista. Afinal, eles têm uma imensa dificuldade em se relacionar com os outros e com o mundo. Em alguns momentos, inclusive, é como se nenhum dos dois existisse. 


Cena do filme Snow Cake
Cinema: novo filme, estrelado por Alan Rickman e Sigourney Weaver, fala sobre o transtorno. Ela interpreta uma portadora
Esse distúrbio tão peculiar atinge cerca de um milhão de pessoas no Brasil. No cinema, filmes como Rain Man (Dustin Hoffman fazia um autista irmão do personagem vivido por Tom Cruise) e Snow cake (Bolo de neve), recém-exibido no Festival Internacional de Cinema de Berlim, na Alemanha, e sem data para estrear no Brasil, ajudam a revelar um pouco do mundo dessas pessoas. Snow cake mostra o envolvimento da autista Linda (Sigourney Weaver) com o ex-presidiário Alex, vivido por Alan Rickman. 

Mas é da ciência que surgem as melhores respostas. A síndrome foi oficialmente descrita pela medicina há apenas 63 anos e já se avançou muito nas pesquisas. Recentemente, especialistas reunidos no encontro da Associação Americana para o Avanço da Ciência, nos Estados Unidos, apresentaram uma revisão na maneira de avaliar os autistas. O médico Laurent Mottron, pesquisador do tema no hospital canadense Riviere-des-Prairies, defendeu a tese de que, apesar de seus problemas, os autistas são mais inteligentes e habilitados a desempenhar funções do cotidiano do que se imaginava até agora. "A idéia de que grande parte dos pacientes tem retardo mental é equivocada. Apenas alguns deles apresentam esse tipo de limitação. Portanto, os autistas devem ser vistos de outra forma", esclarece o pesquisador. O cientista acredita que muito da visão turva até hoje preponderante se deve ao fato de que os portadores geralmente não eram submetidos a testes que pudessem avaliar corretamente sua capacidade de raciocínio. 

Natália Boralli
Natália Boralli, 19 anos Os primeiros sinais do autismo apareceram quando ela era bebê. Aos poucos, a menina isolou-se de tal maneira que o mundo à sua volta parecia não existir. A mãe, a assistente social Eliana, procurou ajuda. Tanto buscou que fundou a Associação dos Amigos da Criança Autista, hoje responsável pelo acompanhamento de 33 crianças. Natália sabe ler, escrever e desfruta de boa autonomia.
A descoberta feita pelo canadense aponta para uma nova maneira de encarar e tratar as vítimas da síndrome, o que é uma ótima notícia. Os estudos, no entanto, ainda não deram respostas definitivas a uma questão importante: a causa do transtorno. Nessa direção, o que existe de novo é um trabalho divulgado em dezembro por cientistas da Universidade da Carolina do Norte (EUA). Eles mostraram que o tamanho do córtex cerebral (região do cérebro) de crianças autistas é maior do que o de jovens sem o transtorno. É justamente nessa área que se processam os pensamentos e agora se investiga como essa característica influi no surgimento dos sintomas. 

Ana Carolina
Ana Carolina, seis anos O comportamento da menina começou a chamar a atenção depois dos três anos. Ela não atendia quando a chamavam, nem olhava para ninguém. Às vezes, passava horas sentada no mesmo lugar. O diagnóstico veio um ano depois. Hoje, acompanhada por especialistas, ela ainda não fala. Mas aponta o que deseja. A mãe, Cristiane, está mais feliz. "Tenho maior contato com minha filha agora", diz.
Com essas novas descobertas já é possível aprimorar e aumentar as opções de tratamento. "Recorremos à psicoterapia para estimular as habilidades sociais do paciente, à ajuda de profissionais especializados para melhorar o controle motor e a remédios, quando necessário, para atenuar sintomas como a hiperatividade", explica o psiquiatra infantil Fábio Barbirato, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Com essas medidas, o que se busca é aumentar a autonomia do autista e proporcionar-lhe um desenvolvimento mais adequado, suficiente para criar as pontes que facilitarão sua convivência com o mundo. Caminho trilhado pelo pequeno Lucas, hoje assistido por especialistas da Associação de Amigos do Autista e estudante da segunda série de uma escola preparada para receber crianças como ele, em São Paulo. "Ele está mais auto-suficiente. Mais preparado para a vida", diz a mãe, Paula Guimarães. A torcida é para que Lucas e todos os outros autistas fiquem cada vez mais sintonizados com o mundo. 

E há motivos para otimismo. Além das descobertas do especialista canadense, a medicina já amealhou um sólido conhecimento das características mais importantes do transtorno. Entre elas estão sinais inconfundíveis, surgidos nos primeiros anos de idade, como agitação excessiva. "É comum também o aparecimento de movimentos repetitivos com as mãos ou com o corpo e a fixação do olhar em algum ponto", explica o psiquiatra Estevão Vadasz, do Hospital das Clínicas de São Paulo. (leia mais sintomas no quadro abaixo). 

Sabe-se também que o distúrbio tem graus variáveis. Há os mais severos, nos quais muitos pacientes não falam e apresentam elevada agitação e agressividade. Existe ainda o autismo de alta funcionalidade. Nesses casos, os portadores aprendem a ler e têm boa capacidade intelectual, mas manifestam limitações motoras e de socialização. E há os autistas diagnosticados com a síndrome de Asperger. São indivíduos que possuem muita dificuldade na relação social, mas não apresentam atraso no desenvolvimento da cognição. Muitos até se destacam pela inteligência em áreas relacionadas à arte e às ciências exatas. 

Traduzido/transcrito por Argemiro Garcia

Turma da Mônica

Como a maioria dos autistas, Rafael Yuri tem dificuldades na comunicação, pouca interação social e comportamento anticonvencional. São aspectos básicos da síndrome. Para mim, um agravante terrível é o preconceito. "O autista não é desprovido de afeto nem é necessariamente agressivo",  "Viver, sair na rua e não ligar para cara feia das pessoas".Os autistas não são tão isolados em seu próprio mundo quanto o autismo é isolado no Brasil.

Tradução de mim mesma...

Rafael Yuri Cardoso aos dois anos
“ A vida deveria ser mais que seguir comandos; ações e expressões deveriam ser mais que treinamento e um meio para um fim. A vida deveria, em algum momento, ser uma recompensa por si mesma. ” Donna Williams, uma pessoa adulta, com autismo (1996, pg. 128). Em Autism - an Inside out Approach”.

Rafael Yuri Cardoso aos dois anos

"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca."


Rafael Yuri Cardoso aos dois anos

"Sou um filho da natureza:
quero pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo,
de um mistério.
Sou um só... Sou um ser.
E deixo que você seja. Isso lhe assusta?
Creio que sim. Mas vale a pena.
Mesmo que doa. Dói só no começo."
Rafael Yuri Cardoso aos 05 anos

"Sabe o que quero de verdade!? Jamais perder a sensibilidade. Mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma. Porque sem ela eu não poderia sentir a mim mesma."

Rafael Yuri Cardoso aos dois anos


"Ando de um lado para outro, dentro de mim.
Estou bastante acostumado a estar só, mesmo junto dos outros."

Estas palavras de Clarice L. falam muito de mim...



Rafael Yuri Cardoso 01 anos 


As crianças autistas, tal como todas as crianças, são diferentes no comportamento e habilidades. Todas as crianças com autismo têm sintomas diferentes, o que torna difícil diagnosticar o autismo. Um sintoma pode ser fácil de ver numa criança e não se ver noutra.

Rafael Yuri Cardoso 01 anos e 03 meses


Ele é a melhor coisa que já aconteceu comigo.

Rafael Yuri Cardoso 01 anos e 03 meses







terça-feira, 19 de abril de 2011

Connector RX e o Eric Hamblen

Não venho polemizar, mas tenho que dar meu depoimento sobre o Connector RX e o Eric Hamblen, seu criador, pelo interesse de muitos nesses 2 assuntos.

Escrevi um tópico sobre o Eric e outro sobre o conector e enviei para a Marie Schenk postar em seu blog, quem tiver curiosidade, acesse http://umavozparaoautismo.blogspot.com/2011/04/connector-rx-e-eric-hamblen-por-paiva.html

Enfatizo que não tenho nenhum conhecimento teórico (ainda) sobre o conector (digo sobre o uso dele, pois o "equipamento" é muito simples) e venho apenas apresentar uma evidência anedótica ("para mim funcionou") -- como bem explica o Murilo Queiroz.

Sou cético quanto a novos "tratamentos" e aparentes "milagres" e só topei esse teste por ter sido indicado pela casal Marie e André Schenk, pessoas a quem devo meu maior respeito (e acrescento que ela, pelos cursos que fez nos EUA e pela experiência de ter 2 filhos autistas, entende de vários aspectos da síndrome muito mais que a maioria dos profissionais especialistas no Brasil). Por isso fui "desarmado" para essa experiência e agora tenho colhido bons frutos com meu filho, o que, na prática, é o que desejo. Minha intenção não é provar nada, nem o que funciona, nem o que não funciona, mas se melhorou a qualidade de vida do meu filho (e/ou da minha família), valeu a pena. Tenho usado o conector e tenho tido bons resultados -- somente isso é o que posso dizer.

Outro aspecto que me motivou fazer a experiência foi saber que o Eric tem uma grande bagagem de ABA (inclusive foi aluno do Lovaas) e sua grande experiência com muitas famílias afetadas pelo autismo.

Mais um fato importante é que não falo inglês (só "the book is on the table"... hehehe), por isso contei com a ajuda de intérpretes, que foi a própria Marie e seu marido André, que o fizeram gentilmente.

O site dele realmente não está dos melhores do mundo e vou dar um toque a ele sobre colocar mais vídeos e suporte com imagem para ilustrar melhor o conector e, mais ainda, seu método de uso. Uma boa idéia do Murilo é de colocar trechos de palestras dele, e achei ótimo. Vou passar isso tudo à Marie, que tem contato direto com o Eric. Creio que, para nossa cultura, está faltando mesmo explicações mais palpáveis. Talvez ele não seja tão bom empresário quanto é bom profissional... hehehehehe

Um último detalhe pequeno: algo que deixou minha família muito comovida foi ele usar o termo "nossas crianças" para falar dos autistas, sendo que ele não tem nenhum filho com autismo. Achei o Eric muito humano, muito solícito e uma pessoa de bom coração. O que em nada tem a ver com autismo. É somente uma opinião pessoal.

Era isso que tinha a dizer e espero ter explicado mais que complicado,  :)

Paiva Junior
Pai do Giovani, 3a11m, atualmente ESTÁ no espectro autista;
e pai da Samanta, 1a11m, com desenvolvimento típico.
Twitter: @PaivaJunior
ATIBAIA - SP

domingo, 17 de abril de 2011

Tony Attwood entrevista Temple Gradin



Este artigo foi publicado na edição de Janeiro-Fevereiro de 2000 do Autism Asperger’s Digest publicação de Future Horizons. 
Para mais informações :http://www.autismdigest.com/ 
Ed. Note: Esta entrevista foi gravada em 9 de dezembro de 1999, num seminário em São Francisco, California. A audiência adorou quando Temple revelou alguns fatos muitas vezes engraçados de sua vida pessoal. Ver Temple rir de si mesma foi uma oportunidade rara... Divirta-se!



A autobiografia de Temple Grandin’s, Emergence: Labeled Autistic e seu livro subsequente, Thinking in Pictures, juntos contém mais informações e insights sobre o autismo do que qualquer livro que eu tenha lido. A primeira vez em que a ouvi falar, pude imediatamente perceber sua maneira direta de ser. Toda a audiência foi cativada por seu conhecimento.
Fiquei feliz ao ser convidadpo para entrevistar Temple, já que me proporcionou uma oportunidade de pedir seu conselho sobre tantas questões. Ela é uma pessoa extremamente afetuosa e a entrevista em São Francisco reuniu uma audiência de mais de 300 pessoas. Ao final, o aplauso foi longo e entusiasmado. 
Temple é minha heroína. Ela tem o meu voto como a pessoa que proorcionou o maior avanço em nossa compreensão sobre o autismo, neste século. 
Dr. Tony Attwood


Tony: Temple, você foi diagnosticada como autista aos quinze anos de idade. Como os seus pais contaram a você e como você se sentiu com esta notícia?


Temple: Bem, eles nunca me explicaram muito bem. Eu meio que descobri através de minha tia. Você tem que lembrar que eu tenho 53 anos e aquela era uma era freudiana, uma época muito diferente. 
Na verdade, eu fiquei aliviada quando descobri que havia algo de errado comigo. Pude entender porque eu não me entrosava com o pessoal da escola e porque eu não entendia algumas coisas que os adolescentes faziam – como minha colega de quarto que gritava quando via os Beatles num show de televisão. Eu pensava, é...Ringo é bonito mas eu não rolaria no chão por ele...


Tony: Então, atualmente, se você precisasse explicar para um jovem de 14 ou 15 anos : você tem autismo ou Síndrome de Asperger, como você diria?


Temple: Eu acho que eu diria para ele ler o meu livro ou o seu... 
Bem, eu provavelmente explicaria de maneira técnica, que é um atraso no desenvolvimento do cérebro que interfere com a interação social. 
Eu sou basicamente uma pessoa técnica – este é o tipo de pessoa que eu sou. Eu quero consertar as coisas. Com a maioria das coisas que eu faço, eu tenho a visão do engenheiro. Minhas emoções são simples. Eu tenho satisfação ao realizar um bom trabalho. Eu tenho satisfação quando um pai chega e me diz ”li seu livro e ele realmente ajudou meu filho na escola”. Eu tenho satisfação como o que eu faço. 

Tony: Parece que quando você era muito peqena e muito autista, você gostava de alguns comportamentos autísticos. Quais eram eles?



Temple: Uma das coisas que eu fazia era deixar a areia escorrer entre os meus dedos , observando e estudando cada partícula como um cientista através de um microscópio. Quando eu fazia aquilo eu me desligava do mundo. 
Sabe, eu acho que é legal uma pessoa autista fazer isso às vezes porque é calmante. Mas se fizer todos os dias, não vai se desenvolver. As pesquisas de Lovaas mostraram que as crianças precisam estar conectadas com o mundo por 40 horas semanais. Eu não concordo que estas 40 horas precisem ser cumpridas sentada à mesa. Mas eu ficava conectada por 40 horas semanais. Eu tinha uma hora e meia de “Moça Educada”, quando eu precisava me comportar às refeições. A babá brincava comigo e com minha irmã uma série de brincadeiras e jogos infantis. Eu tinha atendimento fonoaudiológico todos os dias... estas coisas foram muito importantes para o meu desenvolvimento.


Tony: Ainda há pouco você usou a palavra “calmante”. Um dos problemas de algumas pessoas com Autismo ou Asperger é controlar seu humor. Como você controla o seu?


Temple: Quando eu era criança, se eu tivesse uma “crise de birra” na escola, minha mãe apenas dizia: “Você não vai assistir TV esta noite.” 
Eu freqüentava uma escola regular – 12 crianças na turma. Havia uma parceria entre escola e casa. Eu sabia que não podia jogar minha mãe contra meus professore ou vice-versa. Para mim, bastava saber que se eu tivesse uma crise , não assistiria meu programa favorito naquela noite. 
Quando eu estava no ginásio e as crianças implicavam comigo, eu entrei em brigas sérias. E fui expulsa da escola - não foi nada agradável. 
Mais tarde, quando entrei em brigas no colégio interno, eles cortaram a equitação. E como eu queria andar a cavalo nunca mais briguei. Foi simples assim.


Tony: Mas, cá entre nós, com quem você brigava? Você ganhava?

Temple: Bom... eu geralmente ganhava...

Tony: Você lutava com meninos ou meninas?

Temple: Tanto faz – quem implicasse comigo.

Tony: Então você batia nos meninos...


Temple: Ah, eu me lembro uma vez que dei um soco mum menino na lanchonete... 
Quando a briga acabava, eu chorava. Era a minha maneira de aliviar a tensão. É o que acontece agora, eu só choro, para prevenir as brigas. Eu também evito situações onde as pessoas começam a se irritar. Eu me afasto.


Tony: Eu gostaria de fazer uma pergunta técnica. Se você tivesse $10 milhões para pesquisa , você apoiaria pesquisas em andamento ou investiria em uma nova área?


Temple: Uma das áreas onde eu gastaria este dinheiro seria para tentar descobrir o que causa os problemas sensoriais. Eu sei que não é o déficit central do autismo, mas é algo que dificulta muito o funcionamento das pessoas com autismo.
Uma outra coisa ruim, especialmente para as pessoas de alto funcionamento, é que quanto mais velhos, mais ansiosos. Mesmo tomando Prozac ou outra coisa, são tão ansiosos que é muito difícil “funcionar”. Gostaria que houvesse uma outra maneira de controlar isso que não fosse dopá-los completamente. 
Então levantaríamos questões como, deveríamos prevenir o autismo? Fico preocupada com isso porque se eliminássemos totalmente os gens que causam o autismo, estaríamos eliminando muitas pessoas talentosas, como Einstein. Eu acho que a vida é um contínuo – do normal para o anormal. 
Afinal, as pessoas realmente sociais não são as mesmas que desenvolvem os computadores, ou as plantas de instalações elétricas, ou constroem enormes hotéis, como este. As pessoas sociais se ocupam interagindo.


Tony: Então você não usaria a verba para acabar com a Síndrome de Asperger. Você não a vê como uma tragédia?


Temple: Bem, seria bom acabar com o que causa a deficiência severa, se houvesse uma maneira de preservar alguns traços genéticos. Mas o problema é que existem uma porção de genes diferentes interagindo. Se você recebe poucos traços, é bom, mas se são muitos, é ruim. Parece que depende do funcionamento genético. 
Aprendi trabalhando com animais que quando os criadores selecionam um determinado traço, outros traços ruins vêm junto. Por exemplo: na avicultura, selecionaram engorda rápida e muita carne, mas tiveram problemas porque o esqueleto não era forte o suficiente. Então criaram um esqueleto forte. E tiveram uma grande e desagradável surpresa, com que não contavam : acabaram com galos que atacavam e matavam as galinhas. Porque as pernas mais fortes acabaram com o comportamento normal do galo durante a corte. 
Quem poderia prever este problema ? É assim que a genética funciona.


Tony: Temple, uma das suas características é que você faz as pessoas rirem. Acho que às vezes não é a sua intenção, mas você tem esse dom. O que te faz rir? Como é o seu senso de humor?


Temple: Bem , prá começar, meu senso de humor baseia-se no visual. Quando eu estava te falando das galinhas, eu via imagens. Uma vez eu estava no departamento de conferência na universidade e havia fotos dos diretores antigos, em molduras de madeiras, pesadas e grossas. 
Olhei para elas e pensei: “Oh, galos emoldurados!”
Numa outra reunião na faculdade, quando eu olhei para elas tive vontade de dar uma gargalhada. Isto é humor visual.


Tony: Isto explica porque ás vezes você cai na gargalhada e as outras pessoas não fazem a menor idéia do que está acontecendo...
Temple: É isso mesmo, eu estou vendo uma imagem mental de algo que é engraçado...

Tony: Sobre a sua família: sua mãe foi muito importante na sua vida. Que tipo de pessoa ela era? O que ela fez, pessoalmente, que te ajudou?

Temple: Para começar, ela não me internou. É preciso lembrar que isto foi há 50 anos e todos os profissionais recomendaram que eu fosse internada. Minha mãe me levou a um neurologista muito bom que recomendou fonoaudiologia e jardim de infância. Isto foi um golpe de sorte. Era um Jardim na casa de duas professoras, que sabiam como trabalhar com crianças. Eram seis crianças e nem todas eram autistas. Minha mãe também contratou uma babá, quando eu tinha três anos, que tinha experiência com crianças autistas. Eu tenho a impressão que ela mesma talvez fosse Asperger porque em seu quarto havia um banco de automóvel, retirado de um jeep velho – era sua cadeira predileta...

Tony: De que outra maneira a pessoa que a sua mãe era te ajudou?


Temple: Bem, ela trabalhava muito comigo. Encorajava meu interesse por artes, desenhando comigo. Ela havia trabalhado como jornalista, num documentário sobre pessoas com retardo mental e num outro programa para TV sobre crianças com distúrbios emocionais. 
Como jornalista ela havia visitado muitas escolas. Então quando eu me meti em confusão na nona série, por ter jogado um livro numa menina – eu fui expulsa e tivemos que encontrar outra escola . Ela encontrou um colégio interno que havia visitado como jornalista. Se ela não tivesse feito isso por mim, eu não sei o que teria acontecido. Quando eu cheguei lá, foi que eu encontrei pessoas como meu professor de Ciências e minha tia Ana, lá no rancho, que foi outra mentora importante para mim. Mas muitas pessoas me ajudaram pelo caminho.

Tony: E o seu pai? Descreva seu pai e seu avô.

Temple: Meu avô por parte de mãe inventou o piloto automático para aviões. Era muito tímido e quieto. Não era muito sociável. Do lado da família do meu pai , a gente encontra problemas de humor. Ele não achava que eu chegaria muitolonge. Também não era muito sociável.

Tony: Como você relaxa? Como se acalma no final do dia?


Temple: Antes de tomar medicação, eu costumava assistir Jornada nas Estrelas. Era fã. Uma coisa que eu gostava, especialmente nas séries antigas, eram os princípios morais. Fico preocupada hoje em dia com a violência. O problema com os filmes não é o número de armas , mas é que o herói não tem valores morais positivos. Quando eu era criança o Super Homem ou o Cavaleiro Solitário nunca faziam nada que fosse errado. Hoje, o herói faz coisas como jogar a mulher na água ou permite que ela leve um tiro. O herói deveria proteger.
Atualmente você não tem valores bem definidos. E isto me preocupa porque minha moral é determinada pela lógica. E não sei quais seriam os meus valores se eu não tivesse assistido todos aqueles programas com princípios morais tão bem definidos.


Tony: Como você acha que estará a nossa compreensão do a utismo daqui a cem anos?

Temple: Ah, não sei... A engenharia genética provavelmente estará muito avançada e teremos um programa Windows 3000 “Faça uma pessoa”. Eles saberão ler o código DNA até lá, o que não se faz hoje. Os cientistas podem manipular o DNA – tirar ou por – mas não podem ler as cadeias. Daqui a cem anos eles farão isto. E eu acredito que ao menos os casos severos de autismo desaparecerão porque seremos capazes de manipular totalmente o DNA.

Tony: Atualmente existem algumas autobiografias de pessoas com Autismo ou Sídrome de Asperger. Quais são os seus heróis no campo do Autismo ou Síndrome de Asperger, pessoas que tem estes diagnosticos?

Temple: Eu admiro as pessoas que alcançam sucesso. Há uma senhora chamada Sara Miller que programa computadores industriais. Hoje há outra senhora aqui, muito bem vestida, que conduz seu próprio negócio de jóias, e me disse ter Asperger. Pessoas assim são meus heróis. Alguém que se supera e vai lá e realiza coisas.
Tony: E quanto às pessoas famosas da história, quem você diria ter Autismo ou Síndrome de Asperger?


Temple: Penso que Einstein tinha uma série de traços autísticos. Ele não falou até os três anos de idade – eu escrevi todo um capítulo sobre ele no meu último livro. Acho que Thomas Jefferson também tinha uns traços Asperger. Bill Gates tem uma memória fantástica. Li um artigo em que o autor cita que em criança ele memorizou todo o Torah. 
É um contínuo. Não há uma linha divisória entre o fanático por computador e , digamos, uma pessoa asperger. Eles se misturam. Por isto, se você acabar com os gens que causam o autismo, talvez haja um alto preço a ser pago. Anos atrás, um cientista em Massachusetts disse que se você acabasse com todos os gens que causam os distúrbios sobrariam apenas os burocratas ressequidos!



Tony abriu a entrevista para a audiência Uma das melhores:
Como você percebeu que tinha o controle de sua vida?



Temple: Eu não era uma boa aluna na época do ginásio. Eu ficava com a cabeça no mundo da lua. Por pensar visualmente, precisei usar portas como um simbolismo – uma porta material que eu atravessava – simbolizando a minha passagem para a próxima fase da minha vida. Quando você pensa visualmente e não possui muitas experiências anteriores no disco rígido, você precisa ter algo para usar como mapa visual. 
Meu professor de Ciências conseguiu me motivar em diferentes projetos e eu percebi que se quisesse entrar na faculadde e me tornar uma cientista teria que estudar. Bem, um dia eu atravessei essa porta e disse “ OK, eu vou tentar prestar atenção na aula de Francês.”
Mas houve um momento em que eu percebi a necessidade de fazer algo sobre o meu comportamento. E vivi situações que não foram nada fáceis. Alguns mentores me forçaram - e isto nem sempre foi agradável – mas eles me forçaram a perceber que eu precisava mudar o meu comportamento. Eu não podia continuar a ser uma inútil. Eu precisava mudar aquilo. 
Acho que li num dos primeiros artigos sobre o autismo, de Kanner, que a pessoa autista que finalmente alcança o sucesso, percebe que precisa trabalhar ativamente o seu comportamento. Não adianta ficar sentado reclamando das coisas. É preciso tentar mudar as coisas. Bons mentores podem te ajudar a fazer isso. 


Temple escreveu dois livros sobre autismo: Emergence: Labeled Autistic and Thinking in Pictures. Ela é conhecida mundialmente por suas conferências sobre os transtornos do espectro autista. Tony Attwood é psicólogo clínico, na Austrália, especializado na Síndrome de Asperger e se tornou um dos maiores especialistas do assunto. Freqüentemente realiza palestras nos Estados Unidos e é o autor de 
Asperger’s Syndrome: A Guide for Parents and Professionals. 
Todos os três livros estão disponíveis em Future Horizons. http://www.onramp.net/autism/